segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

CADERNO DE CAMPO DOS FALCONIFORMES BRASILEIROS

Môsar Lemos
INTRODUÇÃO
            O propósito de escrever o “Caderno de Campo dos Falconiformes Brasileiros” foi o de criar um conjunto de informações sobre estas aves, reunidas em um só volume de fácil consulta e manuseio para as observações de campo.
            A partir das obras de diversos autores como Emilie Snethlage, Helmut Sick, Olivério Pinto, Fernando Novaes, Leslie Brown, Dean Amadon, entre outros, compilou-se dados reunindo-os de forma a obter-se o maior número de informações possíveis sobre a ordem.
            Para uma melhor compreensão de tais aves foram levantados dados de anatomia e fisiologia, além dos aspectos da biologia e ecologia das diversas espécies brasileiras.
            Aves de tamanho tão pequeno como 20 cm e 100 gramas de peso, até gigantes como o uiraçu, cujas fêmeas alcançam envergadura de 2 metros e quase 10 kg de peso, impressionam pela beleza do vôo e das técnicas de caça.
            A coloração é geralmente sóbria, em tons de cinza, branco, negro, ardósia, marrom ferrugíneo e ocre. Nas partes nuas aparecem o amarelo e laranja. O vermelho aparece na íris de algumas espécies. Alguns têm penachos na cabeça e o gavião-tesoura tem a cauda nitidamente bifurcada.
            A voz também é bastante variada, como o grito rouco e grave do gavião-belo, o assobio onomatopéico do sovi, o grito esganiçado do carrapateiro (pinhé), o característico cri-cri-cri-cri do quiri-quiri nas cidades, o assobio melodioso do gavião-preto e o grasnar barulhento do gralhão. Nas cidades, nos campos, nas lagoas, nas florestas, eles ocupam vários habitats, utilizando várias fontes de alimentação, predando peixes, aves, insetos, moluscos, crustáceos e mamíferos.
            Quando ao final foram reunidas as informações pretendidas, tornando as observações de campo mais fáceis, percebeu-se que havia sido escrito um manual que poderá ajudar outros observadores de aves, neófitos e nem tanto, a melhor compreender os Falconiformes.
                                              
Niterói, Julho de 1999.

 A SISTEMÁTICA DA ORDEM

SUBORDEM: FALCONES


 
FAMÍLIA: FALCONIDAE

SUBFAMÍLIA: POLYBORINAE

GÊNERO: DAPTRIUS

Daptrius ater
Daptrius americanus americanus
Daptrius americanus pelzelni

GÊNERO: MILVAGO

Milvago chimachima chimachima
Milvago chimachima cordatus
Milvago chimachima paludivagus
Milvago chimango chimango

GÊNERO: POLYBORUS

Polyborus plancus plancus
Polyborus plancus cheriway


SUBFAMÍLIA: HERPETOTHERINAE


GÊNERO: HERPETOTHERES

Herpetotheres cachinans cachinans

GÊNERO: MICRASTUR

Micrastur semitorquatus semitorquatus
Micrastur mirandollei mirandollei
Micrastur ruficollis ruficollis
Micrastur gilvicollis gilvicollis
Micrastur mintoni

SUBFAMÍLIA: FALCONINAE


GÊNERO: FALCO

Falco peregrinus anatum
Falco peregrinus cassini
Falco peregrinus tundrius
Falco deiroleucus
Falco rufigularis rufigularis
Falco rufigularis ophryophanes
Falco femoralis femoralis
Falco columbarius
Falco sparverius cinnamominus
Falco sparverius cearae
Falco sparverius isabelinus


OS FALCONÍDEOS ATÍPICOS

 
INTRODUÇÃO:

Quando pensamos em falconídeos geralmente a primeira imagem que vem a nossa mente é a de um falcão peregrino em vôo, visão bastante convincente da potencialidade e especialmente da silhueta angulosa e de asas afiladas de um falconídeo, preparado para perseguir e abater rapidamente uma presa, com uma perícia de vôo e de manobras aéreas, que os modernos aviões de caça tentam imitar. Porém quando nos deparamos com um carcará, andando meio desajeitado entre alguns urubus, partilhando pedaços de um animal morto, como um carniceiro, imediatamente vem a pergunta: Mas ele é realmente um falcão?

CARACTERÍSTICAS DOS FALCONÍDEOS:

Algumas das características dos falconídeos são comuns ao grupo e partilhadas por outros representantes da ordem FALCONIFORMES, e que os distinguem de outros grupos da classe AVES.
Podemos observar que os dedos são livres, ou seja, não apresentam pés com membranas interdigitais, sendo três deles anteriores e um posterior, o que caracteriza um pé anisodáctilo, providos de unhas fortes, compridas e curvas, formando um pé tipicamente raptorial. A unha do dedo médio não é pectinada, caráter que só aparece no gavião caramujeiro, um ACIPITRÍDEO. O halux (dedo posterior) encontra-se na mesma altura dos demais dedos. As pernas são mais ou menos curtas. O bico é adunco e forte, com a maxila bastante encurvada e proeminente sobre a mandíbula. Pode existir um ou dois entalhes na maxila, conhecidos como dente de falcão, o que não aparece nos ACIPITRÍDEOS, exceto no gavião ripina. A base do bico é coberta por uma membrana bem distinta, conhecida como cera ou cere. As narinas são imperfuradas em todos os membros da ordem, e nos FALCONÍDEOS são circulares (redondas), com um tubérculo ósseo central, diferentes daquelas dos ACIPITRÍDEOS, que se apresentam ovais e sem o tubérculo ósseo. Os loros são emplumados, e a cabeça é coberta de penas, a plumagem é dura e não apresenta coloração metálica. Os FALCONÍDEOS sempre têm os olhos escuros, exceto por algumas formas de Micrastur que apresentam a íris branca. A íris colorida é um atributo dos ACIPITRÍDEOS.
As asas são geralmente estreitas e pontudas, com a cauda de tamanho médio, e fazem a muda das penas da asa de forma diferente. Mudam inicialmente a quarta rêmige primária, prosseguindo nos dois sentidos em direção a décima e à primeira, que é mais interna.
O tamanho é bastante variado, enquanto o cauré e o quiri quiri medem cerca de vinte e cinco centímetros, o carcará chega quase a sessenta centímetros.Como norma geral não apresentam dimorfismo sexual quanto ao colorido, porém as fêmeas são maiores e mais pesadas do que os machos da mesma espécie.
Um caráter osteológico interessante é a fusão de algumas vértebras torácicas formando uma estrutura chamada notarium, que confere mais solidez ao tronco, provavelmente servindo como amortecedor durante a colisão quando capturam uma ave em pleno vôo. Os FALCONÍDEOS (pelo menos no falcão peregrino, no falcão das pradarias e no quiri quiri) não possuem o osso adicional na região do carpo, e que geralmente está presente em Buteo e Accipiter.
Um par de ossos acessórios ao pigóstilo está presente em acauã, em Micrastur, no carcará e em pelo menos 10 espécies de Falco.
            Geralmente capturam suas presas utilizando as garras e as matam rapidamente com um golpe do bico, e neste momento o afiado dente de falcão favorece a secção imediata da medula espinhal. Os ACIPITRÍDEOS geralmente matam suas presas por sufocação.
            Geralmente não constroem ninhos, utilizando saliências nas rochas, ocos de árvores ou mesmo ninhos de outras aves. Quando pousados defecam perpendicularmente ao solo, de forma diferente de como o fazem os ACIPITRÍDEOS, que projetam as fezes para longe.

REPRESENTANTES DA FAMÍLIA NO BRASIL:

Os FALCONÍDEOS estão bem representados no Brasil, contando com espécies campestres, de beira de mata, florestais e aquelas cosmopolitas que ocuparam os ambientes urbanos, onde inclusive procriam. Alguns gêneros são exclusivamente neotropicais, como Herpetotheres, Daptrius, Milvago e Polyborus (nos campos e beiras de mata), sendo Milvago e Polyborus encontrados também nas cidades, e Micrastur que é gênero florestal e finalmente Falco, gênero encontrado em todo o mundo, No Brasil três espécies são mais comumente vistas: Falco rufigularis mais encontrado nos campos, Falco sparverius e Falco femoralis que podem ser considerados urbanos.

FALCONÍDEOS BRASILEIROS ATÍPICOS:

Se analisarmos as características de cada gênero, somente Falco pode ser considerado um falcão típico, embora Falco sparverius não possua o notarium, do mesmo modo que Herpetotheres e Micrastur. É interessante lembrar que o pequeno e ágil acipitrídeo Gampsonyx swainsonii, assemelha-se sobremaneira a um falconídeo inclusive pela forma como faz a muda das remex, entretanto detalhes anatômicos como a ausência do notarium, afastam-no dos FALCONÍDEOS.
Contrariando a norma geral entre os falconídeos, as aves dos gêneros Daptrius, Milvago e Polyborus têm pés e bico relativamente fracos quando comparados com os poderosos pés e bico afiado de um Falco.
O aspecto externo também apresenta variações acentuadas, pois enquanto Falco é aerodinâmico e elegante, outros FALCONÍDEOS têm uma figura extravagante, como por exemplo, o carcará que já foi descrito como uma mistura de urubu com galinha de Angola, tal a estranheza que a ave causa em um observador menos avisado. No carcará e no gralhão as faces são desprovidas de penas e de coloração que varia do amarelo ao vermelho.
A diferença de tamanho que é comum e acentuada entre os representantes do gênero Falco mostra algumas variações entre os demais FALCONÍDEOS brasileiros. O quiriquiri foge a regra, pois machos e fêmeas são quase do mesmo tamanho, porém apresentam diferenças marcantes no colorido. Entre os ACIPITRÍDEOS, o gavião do mangue, Circus buffoni, também apresenta dimorfismo sexual quanto ao colorido.
O dimorfismo sexual quanto ao tamanho (peso) dos indivíduos de uma mesma espécie (fêmeas maiores do que os machos) parece estar associado ao tipo de presas que capturam. Assim naquelas espécies que predam animais relativamente grandes ou muito ativos, o dimorfismo é bastante acentuado como observado em Falco, tornando-se menos evidente em predadores de roedores, insetos e inexistente entre aqueles que apresentam também hábitos necrófagos como os carcarás.

O Gênero Daptrius:

Engloba Daptrius ater e Daptrius americanus e são conhecidos como gavião de anta, cã-cã, gralhão. Os nomes são sugestivos de sua voz e aspecto geral, e ainda a associação com a anta, Tapirus terrestris, observada com o gavião de anta.

Daptrius americanus

São falconídeos grandes (40 a 50 cm), de aspecto galináceo, de plumagem escura (preto com branco) e com áreas glabras em torno dos olhos, face, garganta de coloração viva (amarelo e vermelho), lembrando um pouco a silhueta do carcará.
São onívoros, alimentando-se de larvas de insetos, répteis, filhotes de pássaros e até sementes e frutas. As pernas são coloridas (amarelo ou vermelho) e os pés são fracos. As asas são arredondadas, não muito estreitas nem largas, lembrando os Cathartidae.
           

O gênero Milvago:

Composto por duas espécies Milvago chimachima e Milvago chimango, conhecidos como gavião carrapateiro e chimango, são aves de porte médio (em torno de 40 cm), com as partes nuas da face de coloração alaranjada. O carrapateiro é uma ave geralmente associada à pecuária onde é freqüentemente visto acompanhando o gado do qual retira carrapatos. De aspecto longilíneo, tem as asas arredondadas e cauda de comprimento médio. A silhueta de vôo lembra um pequeno carcará.
São onívoros e podem ser necrófagos, patrulhando as rodovias em busca de carniça. Têm hábitos gregários, e os chimangos fazem migrações no sul do Brasil.

 Milvago chimachima

 O gênero Polyborus:

Provavelmente o mais aberrante e o mais conhecido dos Falconídeos atípicos, Polyborus plancus, o carcará, é encontrado praticamente em todo o Brasil. Ave grande com quase 60 centímetros, de plumagem preta e branca, com a face glabra de coloração vermelha. Apresenta um penacho na cabeça, que eriça quando está excitado.          Ligeiramente pernilongo, de pernas amarelas. Tem o hábito de jogar a cabeça para trás quando canta o seu grasnar rouco e grave.
É onívoro e necrófago. Patrulha beira de estradas e até nas praias de mar, inclusive dentro das cidades (temos visto o carcará na praia de Icaraí, em Niterói (RJ), junto com pombos e gaivotas). Aproveita também frutos e chega mesmo a ciscar o solo como uma galinha, procurando desenterrar sementes.
As asas são arredondadas e a silhueta de vôo lembra o carrapateiro, em tamanho maior. Chamam a atenção a abertura nasal externa que tem o formato de uma fenda com a extremidade caudal mais larga, diferente de Falco que a tem redonda. Detectamos diferenças no peso de alguns exemplares de zoológico (variação de 890 a 1400 gramas em 6 indivíduos).

Caracara plancus

O gênero Herpetotheres:

Representado por Herpetotheres cachinnans,, o acauã é espécie relativamente grande, com cerca de 50 centímetros. De aspecto cabeçudo, semelhante às corujas, tem hábitos alimentares mais ortodoxos, constando que tenha preferência por répteis. Também captura morcegos. Não há dimorfismo sexual evidente. As asas redondas e a cauda relativamente longa dão a ave um aspecto robusto. O gênero carece do notarium, estrutura presente na maioria dos Falco.
É natural das Américas. Sua área de distribuição se estende desde o México até o centro da América do Sul. No México habita as duas costas. Na  costa do Oceano Pacífico desde Sinaloa, embora seja visto em Sonora, até o sul. Na costa do Golfo do México desde o sul até Tamaulipas. Habita em toda a península de Yucatán. Na América Central parece estar ausente da porção montanhosa da Guatemala e  norte de Honduras. Na América do Sul sua distribuição compreende toda Colombia, Venezuela, Equador, o extremo norte e toda a amazônia peruana, a região amazônica da Bolivia, as Guianas, praticamente todo o Brasil e o norte de Argentina. É considerada uma ave comum. É sedentária, embora faça algum deslocamento em certos locais, que parecem estar associados com as épocas do ano, chuva e seca. Habita as bordas das florestas e em áreas de vegetação pouco densa, assim como áreas desmatadas com árvores esparsas e parece evitar o interior das florestas. Ocorrem também em torno das clareiras abertas nas florestas. Está presente desde o nível do mar até os 1500 metros de altitude. Na Colômbia já foi observado em áreas a 2400 metros de altitude, embora não seja comum tal situação. Segundo Alexander Wetmore (1926) podem ser vistos em casais pousados na vegetação mais alta, já outros autores o descrevem como solitário. Nidifica nas frestas das rochas, nos ocos das árvores e em ninhos abandonados de outros rapinantes. A postura consiste de um ou dois ovos, e foi estimado que os filhotes deixam os ninhos com cerca de oito semanas. Parece que têm uma predileção por serpentes em sua dieta, inclusive as venenosas e complementam a dieta com pequenos vertebrados, alguns artrópodes e consta que também caça morcegos. Costuma caçar lançando-se de um galho onde pode permanecer pousado sem se mover durante horas. O acauã é uma espécie relativamente grande. De aspecto cabeçudo, semelhante às corujas. As asas redondas e a cauda relativamente longa dão a ave um aspecto robusto. As asas são curtas com cerca de 25 a 31 cm e chegam apenas até a base da cauda. A cauda colorida de creme é listrada de preto. A fêmea tem a cauda ligeiramente mais longa, sendo maiores que os machos, pesando cerca de 600 a 800 gramas. O peso dos machos varia entre 410 e 680 gramas. O comprimento varia de 46 a 56 centímetros. Herpetotheres cachinnans tem uma cabeça típica, grande com uma coloração amarela creme ou branca com uma faixa negra em torno dos olhos parecendo uma máscara. Os olhos lembram os olhos de uma coruja. O bico é curto e forte de coloração amarela. A estação reprodutiva varia com a latitude. Os pais compartilham os deveres da incubação embora a fêmea seja relutante em se mover do ninho. Após a eclosão o macho assume o papel de caçador e a fêmea atende aos jovens. É extremamente raro que um acauã macho alimente os jovens. Não se tem certeza de quando os pais param de alimentar os jovens, entretanto, geralmente as aves de rapina diminuem lentamente o tempo de alimentação até que os jovens sejam forçados a voar do ninho e a encontrar o próprio alimento. O tempo de vida conhecido de um acauã em cativeiro foi de 14 anos. São crepusculares (ativos ao escurecer, embora vocalizem bastante na parte da manhã) e defendem territórios. Seu comportamento mais distintivo é a “risada”.  Cantam em duetos com o sexo oposto por longos períodos produzindo os sons altos que se assemelham às risadas. O impacto negativo que os acauãs têm sobre os seres humanos são extremamente exagerados. Muitos fazendeiros não gostam das aves de rapina no geral porque ocasionalmente estas aves capturam animais domésticos, e por esta razão as aves de rapina são perseguidas e mortas de forma indiscriminada, sendo às vezes levadas a ponto de extinção. Não existem informações sobre a utilização do acauã na prática da falcoaria. Herpetotheres cachinnans está listado no apêndice II do CITES.
Segundo Batista Caetano, citado por Eurico Santos (1979) o termo acauã deriva de macauã ou macaguã, que significa “o que briga com as cobras”, que por sua vez vem de “mboi-acar-har”.

Herpetotheres cachinnans

O gênero Micrastur:

Asas curtas e muito arredondadas. Cauda longa, arredondada e arqueada, porém  relativamente mais curtas mas em algumas formas. Bico curto, profundo, sem entalhes. Pernas compridas. As penas da coroa algumas vezes são pontiagudas. As penas da região do ouvido são estreitas, duras, curvadas para cima dando uma forma ligeiramente crespa. Orifícios auditivos externos muito grandes. Caça em parte guiado pelo som. Imaturos  às vezes semelhantes aos adultos, às vezes muito diferentes. Algumas formas apresentam uma fase melânica ou cor de telha. Um gênero muito distinto dentro do grupo. Relacionamento evidente com Herpetotheres. Os conhecimentos sobre a nidificação ainda são escassos. São reconhecidas sete espécies, mas a relação entre as várias formas ainda não foi inteiramente trabalhada. Habitat em florestas neotropicais.
Os cinco representantes do gênero variam consideravelmente de tamanho. Enquanto o gavião-relógio, Micrastur semitorquatus, mede cerca de 53 centímetros, Micrastur ruficollis, tem cerca de 30 centímetros apenas. O tauató, Micrastur mirandollei, é intermediário medindo cerca de 40 a 45 centímetros. Assim como em Herpetotheres os representantes do gênero Micrastur não apresentam fusão de vértebras torácicas (notarium). A silhueta lembra bastante a silhueta dos Accipiter, com as asas redondas e a cauda longa, bastante acentuado em Micrastur ruficollis. Micrastur semitorquatus lembra Herpetotheres. São hábeis caçadores na mata fechada, onde capturam especialmente aves. Apanham também répteis e pequenos mamíferos, além de insetos. Seguem as formigas-de-correição que na passagem vão espantando diversos tipos de animais, que acabam sendo capturados pelo falcão. Ocasionalmente saqueiam os ninhos de pássaros. Se locomovem na galhada das árvores e no solo com grande habilidade. Contrariando o comumente observado entre os Falconídeos, a íris de Micrastur gilvicollis e Micrastur mintoni apresenta coloração branca.

Gavião Caburé  (Micrastur ruficollis)
Halcón del Bosque de Cuello Rojo
Barred Forest-Falcon

Micrastur ruficollis

É natural das Américas. Sua distribuição se estende do México até o Paraguai e norte da Argentina. No México sua distribuição na costa do Pacífico chega até Chiapas ao norte. Existe uma população isolada em Guerrero. No golfo do México é visto até Veracruz. No centro chega até San Luis Potosí. Está ausente na península de Yucatan. Exceto por El Salvador ocorre em toda a América Central, inclusive em Belize. Na América do Sul a maioria de suas populações permanece ao leste dos Andes. Na costa do Pacífico chega até o Equador. Ao leste do Andes ocorre na Colômbia, Venezuela, a região oriental e a amazônia do Equador e Peru, o norte e este da Bolívia chegando possivelmente até Cochabamba, praticamente em todo o Brasil, Paraguai e norte da Argentina, em Corrientes, Missiones, no Chaco, Tucumán, Formosa, Salta e Jujuy. Em alguns locais desta distribuição é considerado comum, enquanto em outras não. Alguns naturalistas afirmam que é visto com pouca freqüência devido a seus hábitos discretos e não ao tamanho de suas populações, sendo provavelmente mais freqüentes que se imagina. É uma ave sedentária, pelo menos em parte de sua distribuição. Vive nas florestas tropicais e subtropicais; inclusive nas florestas de terra firme na amazônia e florestas de vegetação secundária. Permanece dentro da vegetação escondido entre a folhagem; usa a camada baixa e média da vegetação. Em determinados lugares do Brasil vive perto das cidades. Ocorre do nível do mar aos 2700 metros de altitude, embora não seja freqüente a mais de 2000 metros. É normalmente um falcão solitário. Faz os ninhos dentro das cavidades nas árvores. A união do casal parece ser estável, mantendo a união por mais de uma estação de reprodução.A postura consiste em dois a três ovos. A fêmea permanece na maioria das vezes no ninho durante os 33 a 35 dias de incubação. O macho traz o alimento durante este tempo. Os jovens deixam o ninho com cinco ou seis semanas. A alimentação é baseada em répteis, como por exemplo os pequenos lagartos. Complementa sua dieta com aves e mamíferos menores, como ratos e morcegos. Também come artrópodes (insetos e outros invertebrados). Este falcão caça durante as horas do dia. Persegue suas presas tanto voando quanto saltando entre a ramagem, como correndo pelo solo, sendo muito ágil. Caça as aves que seguem as formigas; e captura pássaros que estão distraídos prestando atenção às fileiras das formigas tentando capturar algum inseto que foge da correição. As fêmeas são maiores, pesando entre 190 e 270 gramas. O peso dos machos está entre 160 e 185 gramas. Medem de 28 a 38 cm de comprimento.

Gavião Mateiro (Micrastur gilvicollis)
Halcón del Bosque de Cabeza Gris
Lined Forest Falcon

 Micrastur gilvicollis

         É natural da América do Sul. Sua distribuição compreende a maior parte da bacia amazônica. Vive ao sul da Colômbia e de Venezuela, nas Guianas, a este da Amazônia do Equador e Peru, norte da Bolívia e do Brasil amazônico. É considerado comum em sua área de distribuição. É uma ave sedentária. Vive dentro das florestas; inclusive nas florestas de terra firme, permanecendo escondido na maioria das vezes dentro da folhagem; usa a camada baixa e média da vegetação. Está presente até os 1500 metros de altitude, embora seja mais freqüente em áreas com elevação inferior a 900 metros.. Normalmente solitário, aparecendo aos casais apenas durante o período reprodutivo. Caça pequenos vertebrados, insetos e outros invertebrados, incluindo lagartos e pássaros pequenos em sua dieta. Pesa aproximadamente de 170 a 220 gramas. Mede aproximadamente de 30 a 37 cm de comprimento.

Gavião Relógio (Micrastur semitorquatus)
Halcón del Bosque de Collar
Collared Forest Falcon.

É natural das Américas. Sua distribuição se estende da região central do México ao Paraguai e norte de Argentina. Sua distribuição conhecida mais ao norte parece ser o estado do Texas nos EUA. No México ocorre no litoral. Na vertente ocidental seus limites ao norte chegam até Sinaloa, ao leste até Tamaulipas. Pode ser encontrado em toda a península de Yucatan. Na América do Sul ocorrem em toda a Colômbia, Venezuela, Guianas, Brasil e Equador. À oeste dos Andes chega até Tumbes no Peru, e ao leste dos Andes ocorre em toda a região amazônica. Ocorre ao norte e este da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina; em Corrientes, Missiones, no Chaco, Formosa, Salta e Jujuy. É considerado comum em determinados locais de sua área de ocorrência. É uma ave sedentária. Vive dentro das florestas úmidas, mas pode aparecer nas bordas das florestas. Ocorre do nível do mar até 2500 metros de altitude. É uma solitária, mas que pode ser vista aos pares durante o período de acasalamento. Nidifica em cavidades nas árvores. A postura costuma ser de dois a três ovos. A incubação dura aproximadamente 46 dias e é realizada na maior parte (é bastante provável que em sua totalidade) pela mãe. O macho providencia o alimento durante todo este tempo. A união do casal permanece estável durante mais de uma estação de reprodução. A alimentação consiste de aves (chega a capturar aracuans) e mamíferos pequenos; ratos, morcegos, e complementado com répteis; como serpentes e lagartos pequenos. Caça a partir de um poleiro dentro da vegetação, perseguindo sua presa tanto em vôo como no solo. As fêmeas são maiores, pesando entre 560 e 750 gramas. O peso dos machos é de 470 a 640 gramas. Medem de 38 a 61 centímetros de comprimento. Têm a cauda longa.

Tanatau (Micrastur mirandollei)
Halcón del Bosque Blanco y Gris
Slaty Backed Forest Falcon

É natural das Américas. Sua distribuição compreende desde a Costa Rica até a bacia Amazônica, continuando até o sul pelo leste do Brasil até a Bahia. Na Costa Rica e Panamá habita as terras baixas na vertente do Caribe. Na América do Sul ocorre na Colômbia, sul da Venezuela, Guianas, este do Equador e Brasil. É considerado raro, ou pelo menos não é comum. É uma ave sedentária. Habita as florestas, inclusive de terra firme e de vegetação secundaria. Permanece oculto na folhagem. Ocorre em zonas de baixa altitude desde o nível do mar até a cota dos 800 metros. É uma ave solitária. Nidifica nos ramos das árvores. O ninho que foi confirmado estava a uma altura de uns quinze metros. Era uma estrutura pouco firme feita de pequenos ramos. Tanto o macho quanto à fêmea Incubam e defendem o ninho. A alimentação consiste de pequenos vertebrados; lagartixas, serpentes e aves. Caça a partir de um poleiro ou caminhando pelo solo. Pesa de 420 a 550 gramas. Mede aproximadamente de 41 a 46 centímetros de comprimento. O Tanatau desenvolveu um modo eficiente de caçar, diferente das técnicas usualmente adotadas, pois pousado na parte mais baixa da floresta densa, emite sons para atrair as presas, geralmente pássaros, curiosos com o som diferente. Na confusão que se estabelece quando o falcão é descoberto aparece a oportunidade para capturar um dos incautos. Sick comenta que aves visitantes oriundas do hemisfério norte caem com facilidade no estratagema.

Cryptic Forest Falcon (Micrastur mintoni)


Micrastur mintoni

Este falcão foi recentemente descrito por Andrew Whittaker a partir do reconhecimento de que era uma espécie distinta de M. gilvicollis. Através do exame das diferenças no material depositado em museus, e é o autor responsável pelo batismo e diagnose da nova espécie. Uma parcela da população que chamávamos de Micrastur gilvicollis (do sudeste da Amazônia e trechos da Floresta Atlântica) foi reconhecida como uma espécie à parte, diagnosticada e separada de seus congêneres. Indivíduos desse táxon foram e ainda são coletados ou observados desde a primeira metade do século XIX. Existem dezenas de registros acumulados.

CONCLUSÃO:

Quando analisamos os diversos representantes da família Falconidae que ocorrem no Brasil, encontramos variações em vários aspectos não só de caráter morfológico, como também na biologia e ecologia das diversas espécies. Dentre os diversos gêneros somente Falco encaixa-se na idéia que fazemos da família, sendo os demais aberrantes em relação ao que se espera do visual de um verdadeiro falcão. Entretanto dados da anatomia, análise eletroforética de proteínas e até mesmo os ectoparasitos os apontam como pertencendo a um único grupo, embora bastante heterogêneo e que motivou a divisão em subfamílias distintas.
FALCÕES DE VERDADE
O GÊNERO Falco
INTRODUÇÃO:

A maioria dos amantes da falcoaria almeja trabalhar com um dos representantes do gênero Falco, especialmente com a estrela mor, o falcão peregrino.
Nós aqui no Brasil possuímos em nossa avifauna cinco representantes do gênero Falco, quatro residentes e o falcão peregrino, que é um visitante assíduo nos meses de verão, oriundos do hemisfério norte.
Procria nas regiões temperadas da América Setentrional, desde o norte extremo do continente (também na costa ocidental da Groenlândia) até o sul dos Estados Unidos, migrando para o sul durante o inverno, quando visita a América do Sul, a oeste e a leste dos Andes.
O falcão peregrino (Falco peregrinus), um representante magnífico do gênero, foi responsável por alertar a espécie humana sobre os perigos do uso dos organo-clorados.
Os outros quatro representantes brasileiros são o falcão-de-peito-laranja, o cauré, o falcão-de-coleira e o quiriquiri. Na última edição do livro do professor Helmut Sick há informações sobre a presença do esmerilhão (Falco columbarius) no Brasil, porém é uma ocorrência muito rara ou pouco documentada.

AS ESPÉCIES E A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA:

 Falcão peregrino (Falco peregrinus)


Falco peregrinus

           Espécie que ocorre no Brasil como visitante anual, aparecendo na cidade de Niterói e Rio de Janeiro, e em outros locais do Brasil, a partir do mes de novembro e permanecendo até março do ano seguinte, quando então migra de volta para o hemisfério norte. Possui várias subespécies sendo anatum e tundrius as que mais comumente chegam ao Brasil. Falco peregrinus tundrius é menor e mais claro que Falco peregrinus anatum. O peso varia de 600 gramas no machos a cerca de 1 kg nas fêmeas, que chegam a ser 40 a 50 % mais pesadas que os machos. As asas são longas e pontiagudas e a cauda de comprimento médio. Consta que atingem a velocidade de 270km/h quando mergulham quase verticalmente atrás de uma presa. Entretanto a velocidade média de viagem é de 50 km/h. Conseguem visualizar um pombo comendo no chão a cerca de 1500 metros de distância.


Falcão-de-peito-laranja (Falco deiroleucus)

Distribui-se do sul do México, América Central e Meridional cisandina, desde os limites setentrionais (da Colômbia às Guianas), ao norte da Argentina, inclusive o leste do Peru, o Paraguai e o Brasil oriental (do baixo Amazonas ao Rio Grande do Sul) e central (Mato Grosso e Goiás).
Existem registros para a cidade de Amapá (AP); arquipélago das Anavilhanas no rio Negro (AM); Santarém, Ilha de Marajó e Serra do Cachimbo (PA); Piauí; Bahia; Parque Nacional da Serra do Cipó (MG); Cantagalo (RJ); São Paulo (SP); PR, SC, RS; Cuiabá e Rio São Lourenço em Alta Floresta (MT); rio Claro (GO); Boa Vista (RR). A fêmea é maior que o macho. Ela tem cerca de 40 centímetros enquanto ele tem entre 30 a 35 centímetros.


Cauré (Falco rufigularis)

Falco rufigularis

Também é chamado de gavião de coleira e tentenzinho.
È bem pequeno, com aproximadamente 25 centímetros. O macho pesa cerca de 120 gramas, enquanto a fêmea pesa em torno de 200 gramas.
Ocorre na América do Sul oeste setentrional cisandina, do norte extremo (sudeste da Colômbia, Venezuela e Guiana) ao norte da Bolívia, inclusive o leste do Equador, o nordeste do Peru e o Brasil amazônico (Maranhão e norte do Mato Grosso).
A subespécie F. r. ophryophanes ocorre no Leste da Bolívia, Paraguai, norte da Argentina, Brasil central incluindo o Piauí e este-meridional da Bahia ao Paraná, inclusive Minas Gerais.

Falcão-de-coleira (Falco femoralis)

Falco femoralis

Os machos de Falco femoralis também são menores que suas fêmeas. Medem cerca de 36 centímetros e o peso oscila em torno de gramas no macho e gramas na fêmea.

Quiriquiri (Falco sparverius)



É o menor representante da família, medindo apenas 25 centímetros. Também é conhecido como gaviãozinho.
Falco sparverius cinnamominus ocorre na porção oeste meridional da América do Sul, a oeste no Chile e a leste nos Andes, desde o sudeste do Peru até o extremo sul do continente, inclusive nas ilhas Malvinas, Bolívia, Paraguai, Uruguai e o sul extremo do Brasil, no Rio Grande do Sul.
F. s. cearae ocorre no Brasil central no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e no Brasil oriental em todos os estados marítimos.
Falco sparverius isabelinus ocorre na porção setentrional da América do Sul cisandina do sul da Venezuela à Guiana Francesa, incluindo o norte extremo do Brasil (rio Branco).
O quiriquiri é provavelmente o falconídeo mais comum nos centros urbanos. Adaptou-se de tal forma que nidifica nos terraços de edifícios, entra debaixo dos telhados para dormir e ataca as gaiolas de passarinhos penduradas nas janelas das casas.
Junto com Rupornis magnirostris, um acipitrídeo, parece ter dominado a maneira de viver nas cidades.
Além da diferença de tamanho (o macho é menor) Falco sparverius apresenta também um acentuado dimorfismo sexual quanto ao colorido, o que não é observado em outros representantes do gênero. A fêmea de Falco sparverius é ligeiramente maior e com um colorido menos vistoso que o apresentado pelo macho.

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Andrew Whittaker
Antonio Carlos da Silva Bressan
Felipe André Dias Lemos
Jorge Sales Lisboa
Leo Tatsuji Fukui
Môsar Lemos
Roberto da Rocha e Silva


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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